terça-feira, 4 de janeiro de 2011

História do Afoxé Filhos de Gandhy - parte 1


O Porto de Salvador era o responsável pelo fluxo de mercadorias chegadas de todos os pontos do Brasil e da Europa. Os estivadores antes da guerra eram vistos como operários privilegiados e tinham orgulho e vaidade disso porque em comparação às outras categorias ganhavam relativamente bem e não tinham patrões. O seu trabalho era controlado pelo próprio sindicato sem a ingerência patronal. Bastava ameaçar uma paralisação, para ter suas reivindicações atendidas.

Durante a Segunda Grande Guerra, na Bahia como em outros Estados, foram os estivadores que iniciaram os protestos contra o nazi-facismo, se recusando a trabalhar com os navios da Espanha de Franco, sendo os primeiros a saírem em passeata da "Parede", das proximidades do Instituto de Cacau para a Igreja da Conceição da Praia, portando, bandeiras das nações aliadas, inclusive da União Soviética, proibidas no Brasil.

Logo após a vitória dos aliados, vários líderes comunistas, dentre outros Giocondo Dias, Vale Cabral, Jacob Gorender, Mário Alves e João da Costa Falcão, procuraram os estivadores por causa da sua participação ativa na luta contra o fascismo. Com a legalização dos partidos que se encontravam na clandestinidade, houve uma grande filiação dos estivadores no Partido Comunista. Nas eleições que vieram a seguir, foi eleito deputado estadual, o estivador Jaime Maciel.

Assim, criou-se contra a estiva uma espécie de reação, o que não intimidou a categoria. No governo Dutra, a reação determinou a intervenção nos sindicatos e o da estiva foi um dos mais perseguidos, chegando a junta interventora a instaurar inquérito para eliminar os mais atuantes, a exemplo de João Cardoso de Souza.

Antes da segunda Guerra Mundial, os estivadores sempre participaram ativamente das festas populares da Bahia. Eles fundaram o Terno de Reis "Robalo" e se faziam presentes, sobretudo nos festejos da Lapinha e do Bonfim. Posteriormente fundaram o "Comendo Coentro" para o carnaval. Era um bloco com instrumentos de sopro que saía num caminhão alugado. Os relatos da época, dão conta de que os estivadores, em sua quase totalidade, só vestiam roupas dos mais caros linhos importados e usavam chapéus "Panamá".

Seus sapatos eram "Scatamachia" (fábrica já extinta), feitos a mão. Nas festas, chegavam, alugavam barracas de bebidas e comidas só para eles. Chegavam em caravanas de "carros de praça" - táxis. Segundo o jornalista Anísio Félix "Bem poucos tinham mais de uma amante" (controvérsia sobre qual falaremos posteriormente).

Já em 1949, o pessoal da estiva passava por uma péssima fase. O governo federal anunciou uma economia de pós-guerra, estando o sindicato sob intervenção. O clima era de terror mantido pela Capitania dos Portos. Um punhado de estivadores, sentados sob uma velha mangueira, bebiam e discutiam coisas do dia-a-dia nas proximidades do sindicato, na Rua do Julião, onde havia residências familiares, casas comerciais e bordéis. Era quinta-feira do carnaval, os homens lamentavam a situação do Brasil e de cada um. Deus então descansou...

... E os estivadores criaram Os Filhos de Gandhy

(em breve a segunda parte da história dos Filhos de Gandhy)


Fontes

Texto livremente adaptado do livro "Filhos de Gandhi - A história de um afoxé", 1987, Anísio Félix

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