No dia 18 de fevereiro de 1949 os estivadores do porto de Salvador, estavam sentados ao pé de uma mangueira perto da sede da entidade (Sindicato dos Estivadores), preocupados com a falta de trabalho nos portos e a política de arrocho salarial, gerada pela crise do pós-guerra. A idéia original de botar um "careta" na rua, partiu de Durval Marques da Silva(Vavá Madeira), tido como o maior festeiro da turma. A sugestão foi acatada.
Como o dinheiro era pouco pela escassez de navios no porto, os estivadores fizeram uma "vaquinha" para a compra de barris de mate, lençóis e couro para fazer os tamborins. Era uma quinta-feira. O cordão estava formado, faltando apenas o nome que levaria. Coube novamente a Vavá Madeira, a iniciativa de encontrar o nome. Após uma breve explicação sobre Mahatma Gandhy, ficou decidido que ali nascia o "Filhos de Gandhy".
Ao tomar conhecimento de que os estivadores iam sair no carnaval com um cordão chamado de Gandhy, a junta governativa do sindicato chamou os responsáveis para uma preleção, alertando que "tudo que saía da estiva, era visto pelas autoridades como coisa de comunista". Para evitar represálias, o fundador Almir Fia lho deu a idéia para mudar a grafia do nome Gandi, inserindo as letras “dh” e trocou o “i” por “y”, ficando Gandhy
Aloísio Gomes dos Santos (Aloísio Gaiolão) procurou então o advogado Edgar Mata, chefe da equipe jurídica do sindicato, relatando o ocorrido. Mata colocou a sua equipe de sobreaviso durante o carnaval para o caso de alguma prisão. Outros estivadores preferiram seguir os companheiros de perto, não só temendo a intervenção policial, como também para dar cobertura.
Conforme ficou determinado, mulher não podia entrar e era terminantemente proibido o uso de bebidas alcoólicas. A explicação para as proibições era de que onde havia bebida e mulher, haveria obrigatoriamente briga e o lema do cordão era a paz. Em tese, bastava proibir um dos dois “elementos” (ou a bebida ou a mulher).
Em relação à cachaça, não teve jeito: rolou às escondidas já no primeiro Carnaval. No caso das mulheres a “justificativa” mais provável para a proibição, era o número de namoradas e amantes que alguns integrantes do bloco mantinham . Caso fosse permitida sua presença, esposas e “namoradas” disputariam a prioridade para desfilar dentro das cordas do bloco. Em outras palavras: confusão na certa. Para salvar a pele dos namoradores, mulheres somente fora das cordas.
Apesar da exclusão, as mulheres estiveram presentes nas primeiras horas de fundação. Foram as meninas do baixo meretrício do Julião, próximo ao ponto onde o grupo se reunia, que emprestaram boa parte dos lençóis. E foram elas que aplaudiram os primeiros passos da trupe.
Desde sua fundação, Afoxé Filhos de Gandhy, passou por uma série de transformações. Incorporou uma série de elementos ao seu desfile e aumentou de tamanho. A idéia de expansão, aparentemente fora de controle, não agrada a todos porque apesar de ter sido fundado por estivadores, a partir de 1951, o bloco passou a admitir trabalhadores de outras classes. E hoje, praticamente eles formam a minoria.
O Filhos de Gandhy, nos primeiros anos, saiu cantando marchinhas até se dedicar especialmente ao ijexá, (inclusive compondo suas próprias canções). Enfrentou problemas nos anos de 1974 e 1975, quando não desfilou no carnaval, após 25 anos de desfile ininterruptos.
Somente nesses dois anos de sua história ele deixou de desfilar. Mas logo os velhos fundadores e associados antigos, inconformados, resolveram investir do próprio bolso e com alguma ajuda e muito esforço eles conseguiram reorganizar o afoxé.
(em breve, a terceira parte da história dos Filhos de Gandhy)
Fontes
http://www.filhosdegandhy.com.br/historico.html
http://www.filhosdegandhy.com.br/temadocarnaval2010.pdf
http://epoca.globo.com/edic/19990208/cult3.htm
"Filhos de Gandhi - A história de um afoxé", sem editora: Salvador 1987. Anísio Félix
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