domingo, 3 de abril de 2011

“Não concordo com uma palavra do que dizes...

...mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las."
- Voltaire.


A clássica frase acima sintetiza o significado de respeito ao direito de livre pensar e civilidade. Conceitos que andam esquecidos ou em completo desuso em nossas relações contemporâneas.

Há alguns meses atrás, uma colega fez um desabafo nas páginas do Facebook. Motivo: confusão causada por uma opinião que ela emitiu a respeito dos deficientes físicos. Pelo que eu entendi, ela discordava da afirmação de que os portadores de deficiência tem a vida igual a de qualquer pessoa, em função de uma série de limitações que lhe são impostas (tanto por parte da deficiência, quanto por parte da sociedade).

Apesar disso, continuou ela, a relação que devemos estabelecer com essas pessoas, deve ser de respeito, e não de pena. As ações de inclusão não podem usar como veio o discurso da piedade, assim como cabe aos portadores de deficiência lutar por espaço e respeito. Segundo ela a exposição de sua opinião foi o suficiente para uma “chuva de pedras”.


O que começou como desabafo virou uma "lista de discussão", com pessoas se manifestando contra e a favor sendo intermediadas por aquelas que sempre ficam em cima do muro.

Transformamo-nos na sociedade do consenso. As pessoas não aceitam ser confrontadas, a sinceridade gera desconforto. Concluimos que é melhor e mais fácil dialogar com comportamentos e discursos hipócritas do que confrontar e debater com o que não concordamos.

Reinventamos o significado da palavra respeito. Respeitar é não discordar ou não dizer nada que venha “ofender” o outro. Toda discordância se transforma em “questão pessoal”. Se eu falo do gordo, a anoréxica ao meu lado acha que é com ela. Se entro em qualquer polêmica sobre questões de gênero, querem me enquadrar em todos os artigos da Lei "Maria da Penha". Se conto uma "piada de preto", sou um racista conplexado. Se chamo meu irmão de “viado”, quem ouve enxerga em mim um homofóbico “black-nazista”


Outro dia perdi pelo menos umas quatro piadas... Piadas, não: Quatros frases que entrariam para os “anais” (lá ele) da História. Tive que me “entupir” só porque haviam, pelo menos, três homossexuais no ambiente e as frases poderiam soar preconceituosas.

O mundo anda um saco!!! As pessoas andam um porre!!!

Chegamos a um nível de hipocrisia tão absurdo que o patrulhamento do "politicamente aceitável" ganhou ares de Gestapo. Sou advertido até por quem concorda comigo, mas não quer se indispor, ou provocar "mal estar" ousando se manifestar.

Não é esse o mundo que eu quero viver!

Não é só sinceridade que falta no mundo... Está faltando ao mundo, senso de humor...

- Adoro piadas de mau gosto, trocadilhos infames e frases infelizes;

- Adoro debater idéias e pensamentos absurdos;

- Não suporto cigarro, mas adoro quem fuma;

- Não uso drogas, mas acho que devem ser legalizadas;

- Sou contra o aborto, mas acho que a mulher tem o direito de decidir que porra quer fazer com seu corpo, sua mente e sua vida.

A convivência com pessoas com idéias e comportamento pasteurizados, está me transformando em um cara “zen”. Sou quase um budista (não fossem minhas tendências genocidas).

Viva “Family Guy” e “The Simpsons” dos anos 90 (o atual está muito light); Que saudade da estupidez generalizada de Eric Cartman e da completa falta de sensibilidade de Karen Walker; das leituras do "Casseta Popular", do "Planeta Diário" e de Henfil.

Infelizmente tem sido cada vez mais difícil se divertir... As produções cinematográficas, quando falam em "um grupo de amigos", sempre tem um branco, um negro (ou indiano), um judeu e uma outra variante qualquer... todo mundo se amando. Gosto muito de cinema, mas os filmes estão tão previsíveis que você já é capaz de entender as nuances centrais da trama, no trailer.

Outro dia até que fui surpreendido com um filme: Espero Que Sirvam Cerveja No Inferno ( I Hope They Serve Beer in Hell, 2009 ). Fiquei com a impressão que havia sido filmado em outro planeta... Muito bom!

É lindo lutar pelo fim das desigualdades. Mas tão importante quanto, é respeitar as diferenças.

Por falar em diferenças, lembre que nem tudo, ou melhor, quase nada é pessoal. Não vou me calar porque, como diria a minha colega do início do texto, Cada vez que uma coisa é dita, ela ecoa nas referências e bloqueios de cada um, e às vezes vira uma crise, pois a pessoa ainda não sabe lidar com aquele assunto... vamos aprender a ouvir as coisas sem achar que é tudo direcionado pra mim, ou pra me atingir... vamos andar em paz com nossos conceitos (ou preconceitos) e pontos de vista”.



Viva a leveza da vida, viva o senso de humor!!!


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